22 de abril de 2021

Dia do “Índio” ou Dia dos Nossos Ancestrais: Revalorização das nossas origens para projetar o futuro.



        


            Olá, tudo bem?!

Eu sou o professor Michael Oliveira Baré Tikuna, advenho do Amazonas, por parte de mãe pertenço aos povos de língua aruaque, Baré e Manau, e por parte de pai do povo Tikuna do rio Solimões. Sou ex-morador em situação de rua, artesão, terapeuta e o primeiro indígena a adentrar na UERJ, no curso de História pelo sistema de cota indígena.

Estes tempos sombrios de pandemia de Covid-19, lawfare, fake news e pós-verdade, em que estamos inseridos, nos fizeram parar e refletir um pouco sobre nossos valores e sobre nossa humanidade. Nesse sentido, aproveitando o ensejo do dia do “índio”, que marca o dia de lutas, conquistas e retrocessos e de reconhecimento da cultura indígena, dia de agradecer aos povos originários por nos legarem suas culturas: o que comer, suas estratégias de caça, de pesca e de agricultura... Por sermos herdeiros dessa rica cultura milenar.

Vos convido a fazer um breve exercício reflexivo analítico sobre aspectos da história do Brasil sob a visão de um intelectual indígena que, se apropriando dos saberes acadêmicos percebeu que nossa história é, antes de tudo, uma construção social histórica perversa em relação aos povos indígenas e é preciso uma reparação histórica. E dessa forma, apresentar uma ação dialógica que procure responder a seguinte questão: Qual a importância da história e cultura indígena para nossas vidas ou para a vida dos brasileiros?

Quero falar da autenticidade dos povos indígenas, ou seja, de que já estavam “na moda” desde antes da chegada dos portugueses, para isso, observemos alguns aspectos dos usos e costumes da cultura autóctone que estão em voga atualmente, ou na moda! Naquele tempo, em 1500, não existia cinema, só teatro, e os ancestrais dos cariocas, os tupinambás, junto com vários outros povos que moravam ao redor do que veio a se chamar Brasil, já assistiam a interpretações ao redor da fogueira. Eram povos dotados de vários gêneros “teatrais” e literários, e por ser da oralidade possuíam excelentes oradores, intérpretes, contadores de história e até “palhaços”. Temos até hoje gênero de terror, suspense, drama, ação, aventura, comédia e até os maravilhosos do mundo dos encantados como curupira, Yara... Além das belas fábulas dignas das mais altas civilizações como, por exemplo, a fábula do jabuti e a onça, onde a inteligência vence a força.

Assistiam a essas interpretações comendo pipoca, milho, pamonha, mingau, amendoim torrado ou cozido, tapioca. Tomando chocolate, guaraná, chá mate entre outros, cauim, cerveja de milho e açaí. Todos pintados e tatuados, com os beiços e narizes furados, as orelhas furadas, com escarificação e até com pedras incrustadas nas bochechas ou no peito. Ora, não é isso que está na moda hoje em dia?! E que representa a cultura máxima do Brasil, são essas coisas que os povos indígenas nos legaram.

E agora, estamos mais na moda do que nunca, porque as pessoas do planeta inteiro estão reconhecendo que temos que proteger o planeta terra, a natureza, para que haja um futuro, e os povos originários são essa representação de respeito, de proteção e amor a natureza a quem consideramos nossa mãe. Então, até nesse aspecto da vida social nós, os povos indígenas, continuamos na moda.

Quis trazer este assunto para vocês, para demonstrar o quanto nós herdamos essa cultura dos povos indígenas, infelizmente muitos dos brasileiros não são gratos a estes povos e o pior é que a civilização ocidental se apropriou dessa riqueza milenar ancestral e não deram os créditos, assim como a civilização brasileira, e fizeram uma coisa muito feia conosco, com os nossos ancestrais, nos escravizaram e tentaram nos exterminar, por isso temos que fazer essa reparação histórica, nós temos que dar o devido valor que os povos indígenas merecem, porquê, acima de tudo, o povo brasileiro como povo miscigenado, que é a sua principal característica no exterior, foi gerado no útero de uma “índia”.

O brasileiro nato, que é a maioria da população, tem o sangue indígena, pode ser preto, branco, moreno, ter os olhos da cor que quiser, tem a genética do povo originário, mesmo não sabendo. Então, acima de tudo, o dia do “índio” representa para nós brasileiros algo mais que um mero dia de alguém que o colonizador escravista denominou de “índio”, que na verdade, são vários povos sob esse nome. Então, este dia também pode ser marcado como “O Dia dos Nossos Ancestrais”. 


 Por Michael Oliveira Baré Tikuna.

Imagens: Joyce Barbosa. Jogos Mundiais Indígenas, 2015.

3 de março de 2018

Márcio Hilário para Chefia de Departamento de Língua Portuguesa

O colegiado do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros do Colégio Pedro II (NEAB CPII) vem, através desta moção, afirmar apoio público à candidatura do Prof. Márcio Hilário para a coordenação geral do Departamento de Português e Literaturas de Língua Portuguesa. O colegiado NEAB CPII considera que as propostas do candidato são a garantia de que a construção de saberes previstos nas leis 10639/03 e 11645/08 se dê de forma sistematizada e efetiva. O candidato demonstra, em seu plano de campanha, ter plenas condições para viabilizar um ensino de Português e Literaturas plenamente comprometido com a valorização da diversidade étnico-racial no Colégio Pedro II. Possui, ainda, um histórico respeitável e sólido de lutas por justiça social e na resistência às consequências do racismo em nossa sociedade. Destacamos sua atuação junto à construção do curso de pós-graduação EREREBA, reafirmando a importância da educação das relações étnico-raciais na Educação Básica, por tanto tempo tão timidamente tratada no Colégio. Neste sentido, o NEAB CPII saúda a candidatura do Prof. Márcio Hilário e pede publicamente voto a todos os docentes do departamento comprometidos com a defesa da diversidade, pelo respeito ao próximo e, ao fim e ao cabo, por uma Educação pública, gratuita e de qualidade para todos e todas.

Veja, na íntegra, o vídeo da campanha do professor Dr. Márcio Hilário

Abaixo, a proposta da candidatura: